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quinta-feira, 24 de abril de 2008

Discurso atribuído a Cristóvam Buarque

Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos o então Ministro
da Educação CRISTOVAM BUARQUE foi questionado sobre o que
pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma
insistência nalguns sectores da sociedade americana e que muito
incomoda os brasileiros).

Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de
um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam
Buarque:

"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a
internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não
tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso.

Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a
Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de
tudo o mais que tem importância para a humanidade.

Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada,
internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro...
O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a
Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas
sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e
subir ou não seu preço.

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser
internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres
humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um
país.

Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas
decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar
que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na
volúpia da especulação.

Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de
todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à
França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas
pelo génio humano. Não se pode deixar esse património cultural, como o
património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto
de um proprietário ou de um país.

Não faz muito tempo, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele,
um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter
sido internacionalizado.

Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do
Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em
comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu
acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser
internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a
humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro,
Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua
história do Mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la
nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais
nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de
usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do
que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.

Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm
defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do
mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir
que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à
escola.

Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não
importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados
do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os
dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da
Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam
estudar, que morram quando deveriam viver.

Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo.

Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a
Amazónia seja nossa. Só nossa!"

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