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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Como é a trajetória de um CFO de sucesso

 Compartilho com vocês minha entrevista no Podcast “Sala de Negócios” onde falo sobre o tema “Como é a trajetória de um CFO de sucesso”.

Feliz 2022 a todos, com muito sucesso!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

A perda do histórico digital

Nem sempre a digitalização é boa. Possibilita a armazenagem de muito conteúdo. Mas quem garante sua integridade e preservação? Antigamente, textos escritos e fotos eram penosamente guardados, ficavam empoeirando, mas era possível recuperá-los: a preocupação eram os incêndios. Hoje, arquivos digitais podem ser simplesmente descartados, deixando vácuos na história.

Por exemplo, fui informado recentemente de que o website de uma antiga revista que cobria o mercado de distribuição de tecnologia (do qual fiz parte por vários anos), a Resellerweb, além de ter encerrado suas atividades na área de tecnologia vendeu seu domínio para nova publicação, com outro foco, o mercado de entretenimento, passando a incluir posts sobre o programa BBB e vincular imagens, digamos, fora do âmbito profissional.

Espero que os novos donos tenham sucesso na nova empreitada, mas perdi todo um histórico profissional digital coberto por pela antiga revista. Assim, tive que eliminar do blog links para antigas matérias interessantes que cobriram parte de minha trajetória profissional.

Guardei aqui apenas os títulos da publicações, que cobrem o período de 2001 a 2006, os links foram removidos.

 

·      Ingram lança plano inédito de financiamento para software

·      IBM premia Ingram como melhor distribuidor de 2004: melhor resultado financeiro

·      Campeões do Canal 2005: Ingram leva maioria dos prêmios

·      Vendas da Ingram sobem 13% em 2005

·      Sérgio Diniz vai para a Ingram Micro

·      Diniz deixa a SED Brasil, após prestar inestimáveis serviços

·      SED Brasil investe em divisão de software IBM

·      SED Brasil investe em parcerias com fornecedores coreanos

·      SED Brasil contrata dois gerentes de negócios

·      SED Brasil amplia quadro de profissionais

·      Presidente mundial da SED participa de evento em São Paulo

·      SED Brasil define diretor comercial e de marketing

·      SED Brasil nomeia diretor de produtos e operações

·      SED Brasil tem novo diretor geral: Sérgio Diniz

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

O julgar na visão cristã


O julgar na visão cristã
Por Sérgio Diniz


Se no passado, em nossas juventudes éramos “esmagados” sob o peso de uma igreja “pesada”, onde tudo era pecado e tudo se julgava, onde pecávamos o tempo todo por querer julgar tudo e todos, me parece que nos tempos atuais estamos caminhando em sentido completamente oposto: estamos perdendo a noção do certo e do errado à luz dos ensinamentos do Cristo: tudo parece válido, ficamos com a sensação de termos as mãos atadas, temos vergonha de nos posicionarmos.
Agora,  nos parece que qualquer falta, ou atentado contra a Palavra, é deixada de lado, não são apontados erros graves, por medo de julgarmos e assim, ainda que involuntariamente, cometemos novo pecado. O maldito do “Politicamente Correto”. Tornou-se lugar comum a frase “não podemos julgar...” ou “quem sou eu para julgar”. Essas frases, em si, são perfeitas, provém do Evangelho, mas nos parece que estão sendo muito mal usadas atualmente, servindo como um opiáceo às diversas novas pressões e desafios complexos que a sociedade moderna nos impõe diariamente. Então, caímos em um outro pecado: o pecado de não nos posicionarmos contra as mazelas do mundo atual, pois muitas vezes não sabemos como agir, então preferimos o “não agir”, o “não julgar” e também muitas vezes o “ não ver”. Lavamos nossas mãos, como Pilatos modernos.
É certo que ao julgar nossos irmãos, estamos de fato cometendo pecado contra eles: “Não julgueis, e não sereis julgados. (São Mateus 7, 1)", "Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; (São Lucas 6, 37)", ou ainda, "Deixemos, pois, de nos julgar uns aos outros; antes, cuidai em não pôr um tropeço diante do vosso irmão ou dar-lhe ocasião de queda. (Romanos 14, 13)".
Mas, qual é o erro em julgar o irmão? Como nos explica São João, "Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça”. (São João 7, 24)", ou seja, o erro nos parece estar muito mais em julgar sem maiores análises, o julgamento precipitado, a sentença definitiva, “carimbar” a pessoa pelo que aparenta, sem conhece-la. "Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém. (São João 8, 15)" e ainda, segundo Paulo, "Julgais as coisas pela aparência!... Quem se gloria de pertencer a Cristo considere que, como ele é de Cristo, assim também nós o somos. (2 Coríntios 10, 7)”. Isso, de fato, é pecado, o julgar pela aparência. Por outro lado, São João nos alerta novamente para julgar, sim, mas conforme a justiça, a justiça de Deus, que é a sua Palavra.
O julgamento, pela justiça, nos é cobrado por Cristo: "Por que também não julgais por vós mesmos o que é justo? (São Lucas 12, 57)", temos que saber julgar sim, ao invés do “não julgar”, do lavar as mãos. Paulo nos alerta: "Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar: na malícia, sim, sede crianças; mas quanto ao julgamento, sede homens. (I Coríntios 14, 20)". Se um irmão peca, devemos agir, sim, para não sermos cúmplices em seu pecado: “Se teu irmão tiver pecado contra ti, vai e repreende-o entre ti e ele somente; se te ouvir, terás ganho teu irmão. (São Mateus 18, 15)". É nossa obrigação cristã zelarmos pela integridade de nossos irmãos: não podemos vê-los pecando e simplesmente dizermos “não devo julgar”, o problema é dele, dele com Deus.
A frase "Deus ama os pecadores, mas odeia o pecado" não está na Bíblia. É fruto de uma reflexão teológica que deriva das atitudes de Cristo. A máxima expressão deste comportamento de Jesus é encontrada na sua paixão, quando Ele morre pelos injustos (veja 1Pedro 3,18).1 No entanto, essa reflexão também serve para nós. Não julguemos os irmãos pela aparência, pois não sabemos suas reais intenções, pois só Deus penetra no coração das pessoas. Mas devemos sim, julgar as atitudes, os pecados contra a os mandamentos de Deus, contra a Palavra. Mas para isso, temos que aprender de fato a julgar, segundo a vontade de Deus e não através de nossa visão, míope.
" 10.Então, ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: “Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?”. 11.Respondeu ela: “Ninguém, Senhor”. Disse-lhe então Jesus: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”." (São João, 8). Vejamos aí: Cristo não a condenou, mas a admoestou, “não tornes a pecar”. Cabe a nós seguir seu exemplo: sem julgar os irmãos, devemos, sim, alertá-los sobre seus pecados; mas para isso, temos que mudar antes o nosso olhar, usar o olhar de Deus e não o olhar humano.
Nesse sentido, convém lembrar a metodologia que nos foi ensinada (ou deveria ter sido!) pela própria Igreja, o método do ver-julgar-agir, como parte do ensino e prática sociais católicos. O Papa João XXII reconheceu formalmente o método ver-julgar-agir em sua encíclica Mater et Magistra publicada no dia 15 de maio de 1961. O método foi desenvolvido pelo falecido cardeal Joseph Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária Cristã - JOC, que sugeriu ao Papa João que publicasse uma encíclica para marcar o 70º aniversário da histórica encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Em resposta, o Papa João pediu que Cardijn providenciasse um esboço das questões a serem abordadas na encíclica. Ele fez isso em um memorando de 20 páginas apresentado ao pontífice.2 Essa metodologia3 nos ensina como ver a complexidade em que nos encontramos, mas não de uma forma passiva, com a realidade simplesmente passando diante de nossos olhos, mas vendo pelos olhos do Cristo. Assim, podemos e devemos sim julgar, mas não diante de critérios humanos, e sim à luz da Fé de da Palavra de Deus. Após isso, temos a obrigação cristã de agirmos, não de acordo com nossas vaidades e desejos mesquinhos, mas transformando a realidade ao nosso redor, começando por nós mesmo e, depois de tirada “a trave” de nossos olhos, transformando a sociedade ao nosso redor.
Hoje, temos muitos desafios em nossa fé católica, muitas agressões no mundo contra a vida (ex. aborto) e contra a família (ex. ideologia de gênero), entre outras. Jesus disse a respeito de seus discípulos em resposta aos fariseus: "“Digo-vos: se estes se calarem, clamarão as pedras!”. (São Lucas 19, 40)". Portanto, se somos verdadeiros discípulos, devemos nos calar?

Bibliografia:

Agradecimentos.
Ao Padre José Alem, pela inspiração e colaboração, e por manter sempre acesa a chama da verdade em nossas almas.



terça-feira, 23 de julho de 2019

A gestão de caixa em tempos de crise (e fora dela também!!!)


Por Sérgio Diniz, fundador e presidente da Triple A – Advisor, Conselheiro de Administração e Fiscal certificado pelo IBGC, membro e CFO(BR)® Certificado pelo IBEF-SP.

O assunto pode parecer trivial para alguns, mas sempre fico surpreso cada vez que descubro companhias, inclusive de grande porte, que não têm sua gestão de caixa preparada adequadamente para situações de crise, como a que vem se prolongando até o momento. Especialmente as pequenas e médias empresas (PMEs), que vem sofrendo muito nos últimos anos: isto é, aquelas que vem sobrevivendo à crise… Muitas sucumbiram no processo e mesmo nas sobreviventes, muitas vezes encontramos sérias deficiências na gestão do caixa. O assunto é extenso; nosso objetivo aqui é tecer apenas algumas considerações básicas.
A boa gestão do caixa é sempre um elemento chave nas empresas, pois liquidez (capacidade de honrar compromissos em seu vencimento) independe de bons resultados: uma empresa com lucro contábil pode quebrar por falta de caixa. Em momentos de crise, que invariavelmente afetam o caixa, essa gestão passa a ser fundamental. Há vários tipos de crise, dentre eles:
  • Global ou nacional, em que todas as empresas sofrem os mesmos efeitos;
  • Setorial, em que empresas concorrentes em um mesmo setor são afetadas de forma similar;
  • Da própria empresa, seja por fatores internos (má gestão, litígios, contingências etc.) ou externos (desastres, acidentes etc.).
Mas em TODOS os casos, a gestão do caixa é fator determinante no sucesso! Vamos aprofundar alguns desses aspectos a seguir:
1 – A crise global e impactos no Brasil
A economia global passa por um período desafiador. Os problemas enfrentados pelos países da Europa e o crescimento menor da China têm afetado duramente o Brasil, que sofre também com problemas políticos internos e uma economia paralisada. Nem mesmo a recuperação dos EUA foi suficiente para devolver a confiança aos investidores e alavancar o crescimento dos mercados globais1.
As empresas são amplamente afetadas pelo cenário de incerteza e instabilidade pelo qual passamos. No Brasil, a crise econômica tem reduzido o poder de compra da população, com reflexos negativos no varejo e na produção industrial1.
No País os efeitos são claros, basta abrir qualquer jornal:
  • ‘Agora a venda está péssima’, diz empresário (O Estado de S. Paulo, 22 de junho de 2019).
  • Corte de juros não chega a consumidor e comércio deixa de ganhar R$ 40 bi (O Estado de S. Paulo, 22 de junho de 2019).
  • Com crise, renda do trabalhador chegou a cair mais de 16% em 5 anos (O Estado de S. Paulo 23 de junho de 2019).
  • Cerca de 1,8 milhão empresas fecharam as portas no País durante o ano passado (O Estado de São Paulo – 10 de maio de 2016)
Como se não bastasse a crise macroeconômica, as PMEs acabam sendo afetadas também pelo mau desempenho das grandes empresas, das quais são fornecedoras. Neste cenário, as obrigações financeiras das pequenas e médias companhias pesam ainda mais, em um cenário em que as receitas parecem só diminuir2.
Resultados: o fluxo de caixa fica comprometido e a crise se instala (atrasos nos pagamentos, fornecedores ligando, funcionários insatisfeitos, no extremo falta o caixa para comprar insumos para novas vendas), e a espiral de deterioração se retroalimenta, agravando cada vez mais a crise. E mais, quando o empreendedor vai procurar seu banco para tentar um empréstimo ponte, descobre que não há crédito, especialmente para empresas em dificuldades.
2 – Algumas evidências da crise no negócio
É comum ouvir: “Puxa vida, estou até conseguindo vender, mas o dinheiro não aparece!3. Trocando em miúdos, listamos cinco dentre as principais evidências desse problema:
Primeira: descontos maiores e mais pedidos de parcelamento. Por conta do cenário de crise, os consumidores em geral estão mais inseguros e com isso mais conservadores. Muitas pessoas têm negociado as compras pedindo mais descontos e exigindo mais parcelamentos. Para não perder o negócio, a maioria dos empresários têm aceitado as condições e facilitado as negociações, abrindo mão da margem e caixa, o que compromete o futuro da empresa.
Segunda: a queda nos recebimentos é mais rápida do que a queda dos custos. Um conselho muito comum neste momento é a redução de custos, mas na prática o impacto positivo real no fluxo de caixa leva algum tempo para acontecer, pois a maior parte das despesas não podem ser descontinuadas do dia para a noite.
Terceira: cancelamentos, inadimplência e devoluções. Infelizmente, por insegurança ou por questões financeiras, muitos clientes podem abandonar o barco, devolvendo produtos adquiridos, não pagando por serviços prestados ou suspendendo aqueles serviços que não julgam essenciais.
Quarta: desorganização, falta de treinamento e envolvimento das pessoas. Talvez esses sejam alguns dos problemas mais fáceis de resolver e que gerarão maior impacto no caixa de sua empresa, o que exige, porém, muitas vezes a expertise de terceiros e, portanto, gasto de mais recursos.
Quinta: Por fim, “o caixa desaparece”.
3 – Como sair da crise?
Em momentos como esse, reforços dos controles financeiros ganham importância nas companhias, cada vez mais preocupadas em reduzir o impacto da crise e garantir os bons resultados de seus negócios. A tecnologia é uma aliada primordial nesse processo4. Em tempos de crise, gerenciar o caixa da empresa é a diferença entre sobreviver e naufragar no cenário adverso.
Ao interpretar corretamente o ambiente externo, os ciclos de vida do negócio e a saúde financeira da empresa, os riscos podem ser administrados e as decisões são tomadas de maneira rápida e flexível, de modo a garantir a competitividade e a longevidade da organização.
É possível identificar previamente cenários de ruptura de caixa e direcionar ações corretivas, bem como atuar ativamente para diagnosticar e criar o plano de recuperação da empresa em meio a um cenário de crise4.
É grande a diferença entre ficar apavorado e sair dando descontos e cortando custos de qualquer forma (o que infelizmente é o que boa parcela dos empresários faz) e estar ciente das dificuldades, quantificá-las e ter um plano com ações concretas e objetivas.
O problema, na maioria dos casos, é que o empreendedor conhece muito sobre o negócio, mas poucos conhecem sobre Finanças e menos ainda sobre reestruturação. Como fazer um plano, então? Nesse momento, é fundamental a figura de um bom CFO, de preferência certificado, ou então de consultores externos especializados, que conheçam e saibam usar ferramentas e controles financeiros adequadamente (leia mais a seguir).
4 – Ferramentas e controles financeiros
Controles financeiros: quais? Ao analisar a gestão financeira do negócio, o empreendedor se depara com vários números e informações5. O mais incrível é que, apesar de mais comum nas PMEs, estas questões muitas vezes não são adequadamente respondidas em algumas empresas de grande porte:
  • Quanto vendi este mês?
  • Quanto preciso comprar de produtos para repor o meu estoque?
  • Quanto minha empresa está lucrando?
  • Qual é a melhor forma de pagamento dos meus insumos?
  • Quanto vai sobrar no meu caixa no final do mês?
No caso das PMEs, as mesmas têm que começar pelo básico. A palavra de ordem é: anote, anote e anote5! Entre os principais controles, temos, entre outros:
  • Fluxo de caixa;
  • Controle de caixa;
  • Controle bancário;
  • Controle de contas a receber;
  • Controle de contas a pagar;
  • Controle de estoques.
A partir da análise dos indicadores obtidos por meio desses controles, é possível desenhar planos de ação, por exemplo5:
  • Tomar providências para a cobrança e o recebimento dos valores em atraso;
  • Reduzir estoques de materiais ou de mercadorias;
  • Reduzir prazos de recebimentos de vendas e aumento dos lucros;
  • Definir política de análise de crédito e cobrança;
  • Entender e mensurar o capital de giro necessário.
Talvez a ferramenta mais importante seja manter o seu fluxo de caixa sempre atualizado6:
  • Calcular e controlar a entrada e saída de recursos financeiros;
  • Controlar e identificar os gastos da empresa;
  • Manter a liquidez para pagar as contas sem atrasos (evitando pagamento de juros);
  • Evitar o descasamento de operações;
  • Reconhecer a necessidade do capital de giro;
  • Conhecer a melhor data para realizar investimentos ou repor produtos em estoque;
  • Avaliar a política de recebimentos e prazos de pagamento.
5 – Erros na captação de recursos
A empresa, muitas vezes, terá de correr atrás de capital de giro durante a crise. Se, nesse momento, a empresa não possuir uma previsão dos recebimentos e das despesas futuras poderá contratar junto ao mercado um empréstimo para capital de giro muito superior, ou mesmo muito inferior, ao que seria necessário7.
Isso é muito comum, pois ao primeiro sinal de problema, muitos empresários sofrem a tentação de já tomar o primeiro empréstimo disponível para sentirem-se seguros, com caixa na mão.
O grande problema de contratar um capital de giro, ou outra linha de crédito, na medida errada é saber se em curto ou médio prazo a empresa conseguirá pagar o custo dessa contratação sem necessitar de novos empréstimos. Ou também dar garantias demais para uma operação menor que o necessário e depois não conseguir aumentar o valor captado. De maneira geral, os empréstimos no Brasil têm juros muito altos, o que aumenta muito o custo da operação.
Se corriqueiramente a empresa contrair novos empréstimos, porque não calculou direito sua necessidade de capital, os custos dessas operações ficarão muito altos podendo afetar diretamente a empresa, resultando em7:
  • Falta de capital para manter ou investir em novos produtos e serviços e para a operação do dia a dia da empresa;
  • Falta de capital para pagamento de impostos, que em médio prazo poderá se tornar um grande problema;
  • Falta de competitividade dos produtos por estarem com preços acima do mercado devido ao custo financeiro do capital de giro adquirido;
  • Falta de liquidez crescente, devido à necessidade de tomar capital de giro de terceiros frequentemente, a famosa “bola de neve”.
Por isso, é fundamental que a empresa possua bons controles, de forma a corretamente dimensionar sua necessidade de captação. Dentre outros4:
  • O uso de financiamento em conjuntura recessiva: instrumentos financeiros disponíveis;
  • Ferramentas de mitigação de riscos;
  • Gestão do capital de giro: administração de clientes, fornecedores e estoques;
  • Estabelecer o equilíbrio entre rentabilidade e risco, ROE (“return on equity” ou retorno sobre o investimento) e autonomia financeira;
  • Concorrência e flutuação do mercado: como tomar decisões ágeis e flexíveis para responder à instabilidade econômica.
6 – Mas o que encontramos de fato no mercado?
Vários dos itens elencados acima são chave em qualquer tamanho de empresa, e não apenas em PMEs. Fico muitas vezes surpreso ao ver empresas que aparentam estarem bem estruturadas mas que não conseguem, por exemplo, saber o capital de giro e margem por cliente e/ou por linha de produtos, que não sabem diferenciar clientes ou linhas de produtos que têm baixa margem mas por outro lado trazem capital de giro para o negócio, assim como cliente com margem aparentemente dentro da meta esperada, mas que são grandes tomadores de capital de giro, e esse custo muitas vezes não é considerado, e se o fosse poderia inverter a análise da rentabilidade. Encontramos um caso real em que isso ocorria de forma sistêmica.
Quando esses fatores são claramente identificados e computados, sejam os custos financeiros das linhas de produtos, clientes ou categoria de clientes, é que surgem grandes surpresas. Em um outro caso real, coordenei para uma grande multinacional de serviços financeiros no Brasil uma alocação de todos os custos indiretos para cada cliente, fazendo uma análise completa da rentabilidade por cliente. A surpresa: o maior cliente da empresa, computando-se todos os custos, era o que dava o maior prejuízo!
Até mesmo o fluxo de caixa, central na gestão financeira, muitas vezes deixa a desejar. Conheci uma empresa com faturamento de vários bilhões de reais que usava uma simples, e falha, planilha eletrônica para gestão do caixa! A empresa tinha também outros problemas (a falta de gestão financeira adequada normalmente é apenas um dos sintomas) e acabou pedindo recuperação judicial.
Por outro lado, temos vários exemplos de sucesso quando a gestão é bem-feita. Durante minha carreira prévia como executivo, uma das empresas em que tive a honra de trabalhar nos deu a liberdade para fazermos as mudanças financeiras necessárias. Nesse caso concreto, conseguimos aumentar a geração de capital de giro, fazendo o básico, mas bem executado: renegociação de prazos com fornecedores, redução dos níveis de estoque, melhoria da política de crédito e agilização da cobrança junto a clientes.
Neste caso prático, em apenas doze meses, a geração de capital de giro aumentou onze vezes, invertendo um ciclo de captação para o de aplicação de recursos! No ano seguinte, analisando, segmentando e melhorando as margens por clientes e linhas de produtos, ganhamos o prêmio de operação mais rentável mundialmente, dentre outros 44 países! O caixa operacional gerado anteriormente permitiu a expansão das vendas a clientes mais rentáveis, diluindo também os custos fixos. E isso em um mercado complexo como o Brasil, onde anos antes a matriz tinha sérias dúvidas sobre a continuidade dos negócios locais.
Em resumo, a correta gestão do caixa, que abrange todos os ciclos financeiros das empresas, desde a compra até o recebimento, pode ser de fato a diferença entre o céu e o inferno empresarial.

Bibliografia
Este artigo foi publicado pelo IBEF SP em 22 de julho de 2019, veja aqui